O Poder de Jesus - Parte 1
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Qualquer pessoa que entenda a Bíblia sabe que a raça humana caiu como resultado do pecado de Adão e Eva, e que toda a humanidade foi arrastada para o pecado. O pecado liberou uma força mortal e penetrante no mundo que infecta e afeta todos os seres humanos. O ser humano se tornou escravo do pecado, poluindo todos os pensamentos, palavras e atos do homem. É uma corrupção devastadora que submete o homem à tristeza e desespero, e produz morte e condenação eterna.
Há alguma saída para o homem? A Bíblia responde que sim. Há um Libertador e Salvador: Jesus Cristo, o Filho de Deus. Por isso, Marcos começa seu Evangelho dizendo: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Marcos 1:1).
Os Evangelhos mostram atos poderosos e inconfundíveis da divindade de Cristo. Ele subjugou os demônios e legiões malignas, operou sinais e maravilhas, venceu a morte, dominou o vento e o mar, restaurou corpos doentes, multiplicou alimentos etc.
Jesus escolheu expressões de poder que estavam conectadas a libertar as pessoas dos sofrimentos da vida: fome, medo da morte, possessão demoníaca, doenças e até a própria morte. Esse poder sempre foi acompanhado por piedade, pois as expressões de Seu poder eram cheias de misericórdia para com a dor e o sofrimento humanos.
Em Marcos 4: 37-41, vimos o poder de Jesus sobre a tempestade e o mar.
Em Marcos 5: 1-20, vimos Seu poder sobre os demônios.
A partir de Marcos 5:21 vemos Seu poder sobre as doenças e sobre a morte.
Sempre estamos vendo a manifestação de Seu poder divino. E em Marcos 5:21 e versículos seguintes, vemos o poder e a piedade de nosso Senhor manifestados. O principal milagre aqui é a ressurreição. Mas, no meio dessa ressurreição, há um outro milagre. Ambas as histórias são memoráveis. Foi um milagre dentro de outro milagre. Aqui vemos a manifestação de um poder que pertence apenas a Deus.
Marcos 5
21 Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu para ele grande multidão; e ele estava junto do mar.
Tudo começa quando Jesus se retirou da terra dos gadarenos, após libertar um homem possesso por uma legião de demônios. Tristemente, as pessoas naquela região pediram para que Jesus saísse de suas terras (Mc. 5:17). O verso 21 diz exatamente o que Jesus fez: voltou para o barco para tornar a atravessar o Mar da Galileia.
JESUS ERA ACESSÍVEL A TODOS
Jesus não vivia isolado, inacessível e protegido do contato com as pessoas. Todo o Seu ministério foi gasto em público, nas ruas, nas estradas, nas encostas, nos campos, nas sinagogas, nas casas e à beira-mar. Ocasionalmente, Ele se retirou para orar, instruir os discípulos ou descansar. Mas, Ele sempre voltava para as multidões. Ele veio para isso. Em Marcos 1:38-39 diz:
Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim. Então, foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios.
Não foi fácil. Ele foi perseguido de todas as formas, ameaçado, restringido e muitas vezes sofreu tentativas de assassinato, como ocorreu em Sua própria cidade (Nazaré), quando tentaram jogá-Lo de um penhasco (Lucas 4:28-29). Mesmo assim, Jesus vivia acessível a todos.
E assim, Marcos 5:21 diz: “Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu para ele grande multidão; e ele estava junto do mar”. Quando eles chegaram do outro lado do Mar da Galileia, uma grande multidão se reuniu ao redor Dele.
Porém, aquela multidão não estava atraída pela Sua mensagem, ensino e por quem Ele é, mas todo o fascínio era pelo Seu poder. A maioria ali estava buscando curas e milagres, não estava pensando em coisas eternas. Eles queriam alívio para algum tipo de sofrimento.
Mas, no meio daquela multidão egoísta, hipócrita e inconstante, havia duas pessoas que se destacavam. Sua história é uma grande bênção para nós, havia pessoas que tinham verdadeira fé em Jesus.
JAIRO CLAMA PELA VIDA DE SUA FILHA
Marcos 5
22 Eis que se chegou a ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-o, prostrou-se a seus pés
23 e insistentemente lhe suplicou: Minha filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá.
24 Grande multidão o seguia, comprimindo-o.
Jesus estava totalmente acessível, não havia intermediários. O ato de Jairo foi surpreendente. Ele era um oficial da sinagoga, e a religião estava nas mãos dos fariseus e escribas, que por sua vez odiavam Jesus e tramaram Sua morte.
Em cada sinagoga havia um homem ou grupo de homens que atuavam como zeladores, supervisores ou administradores. Eles não eram mestres. Sua função lhes dava a reputação de ser pessoas devotas, homens de liderança madura e selecionados por todas as pessoas para fazer parte de um grupo de anciãos para cuidar de assuntos da sinagoga.
Ele sabia sobre Jesus? Certamente. Jesus havia feito muitos milagres em Cafarnaum, e Sua fama andou velozmente. Ele pode ter estado na mesma sinagoga onde Jesus maravilhou a todos com a autoridade de seus ensinos e onde um demônio, ao se curvar diante da autoridade de Jesus, bradou dizendo que Jesus era o Santo de Deus (Marcos 1:21-24).
Os demônios se renderam diante de Jesus. O vento e o mar se aquietaram diante de Sua ordem. Milagres e sinais demonstravam ser Ele o Filho de Deus, conforme o próprio Pai declarou em Marcos 1:11. E agora, um dos chefes da sinagoga, líder de um sistema religioso morto, prostra-se a Seus pés reconhecendo Sua autoridade. Mateus 9:18 diz que ele O adorou.
Esse homem demonstrou um coração genuíno, humildade, desespero e fé. E insistiu dizendo: “Minha filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá” (Mc. 5:23). Porém, Mateus 9:18 registra o fato dela já ter morrido: “Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe a mão sobre ela, e viverá”. Ele cria que Jesus poderia curá-la ou ressuscitá-la dos mortos.
A fé desse homem estava em Jesus Cristo.
Ele não se importava mais com o status religioso que tinha. Ele tinha algo maior que agarrou seu coração. Ele tinha uma jovem filha que estava quase morta. Marcos 5:35 diz que ela havia morrido. Ele foi a Jesus porque Ele estava acessível e disponível. Marcos 5:24 diz que “Jesus foi com ele”.
Jesus, simplesmente, parou tudo no meio da multidão e tornou-se disponível para esse homem, embora a grande multidão O estivesse seguindo e pressionando. O Criador caminhou com as pessoas. Os Evangelhos estão repletos de histórias de Sua disponibilidade para as pessoas. Jairo está confiante, ele disse: “vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá” (Mc. 5:23).
Aquele homem se movia alegre em direção a sua casa, pois Jesus ia com ele, bem como uma multidão. A sua confiança era que Jesus lhe daria sua filha com vida. Mas, no caminho para casa de Jairo houve uma interrupção. Aí vem o milagre dentro do milagre.
A CAMINHO DA CASA DE JAIRO, JESUS É INTERROMPIDO POR UMA MULHER EM DESESPERO
Marcos 5
25 Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia
26 e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior,
27 tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste.
Uma mulher que sofria de uma hemorragia há 12 anos aborda Jesus. O problema daquela mulher roubava-lhe as forças, ameaçava sua vida e ainda lhe causava profundos constrangimentos. Na lei, a mulher menstruada era considerada impura por 7 dias (Levítico 12:3-8 e 14:19-27). Imagine o quadro dessa mulher: impura há 12 anos.
O que isso significava? Uma mulher impura não podia ir à sinagoga e ao templo. Ela foi rejeitada por doze anos. Se ela tocasse no marido, filhos ou qualquer pessoa, eles também seriam impuros.
Marcos 5:26 diz que ela padeceu com médicos, gastando tudo que tinha, sem qualquer resultado. Além do problema terrível da saúde e constrangimentos, ela mergulhou na pobreza.
Ela tinha ouvido falar sobre o poder de cura de Jesus. Ela creu. Ela violou os limites aceitáveis de sua tradição e do Antigo Testamento e foi para a multidão. E ela teria que ter se esfregado contra as pessoas – quem sabe quantas – contaminando todas cerimoniosamente, embora sua doença não fosse contagiosa.
Ela se misturou à multidão, evitou ser notada, e buscou tocar no manto de Jesus. Ela pensava consigo mesma: “Se eu apenas lhe tocar a veste, ficarei curada” (Mateus 9:21). A palavra traduzida como “tocar” é na verdade “agarrar”. Ela cria que seria curada, não por considerar que o manto era sagrado, mas por causa da pessoa de Jesus. Ela ouviu falar da obra de Jesus e creu Nele.
Marcos 5
28 Porque, dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada.
29 E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo.
Ela creu em Cristo, violou todos as regras religiosas, misturou-se na multidão para tocar no manto de Jesus e foi instantaneamente curada da doença que lhe atormentava. No meio de uma multidão que o pressionava, indo a caminho da casa de Jaíro, Jesus não deixou de ser acessível a quem o buscava.
Marcos 5
30 Jesus, reconhecendo imediatamente que dele saíra poder, virando-se no meio da multidão, perguntou: Quem me tocou nas vestes?
31 Responderam-lhe seus discípulos: Vês que a multidão te aperta e dizes: Quem me tocou?
32 Ele, porém, olhava ao redor para ver quem fizera isto.
O poder de Cristo, Sua capacidade de ministrar e operar de forma sobrenatural, saiu Dele sob o controle consciente de Sua soberania. Jesus perguntou não porque não sabia quem era que havia Lhe tocado, mas para destacar a mulher dentre a multidão e permitir que ela louvasse a Deus pelo que havia acontecido. Seu poder é pessoal. Ele está empenhado em cada ato que faz, Ele não é impessoal, alguém distante.
Jesus sabia o que estava no coração do homem (João 2:25), então Ele bem sabia o que estava no coração daquela mulher. Ele sabia que aquela mulher estava no propósito de Deus. Como uma ovelha, ela conheceu a voz do seu pastor (João 10:27). E aqui, Ele está prestes a chamar um dos escolhidos de Deus, a quem o Pai está atraindo para Si mesmo.
Jesus nunca fazia abordagens superficiais, Ele nunca Se contentava com uma resposta insuficiente. Ele sabe quem são os eleitos para levar a verdade da salvação. Ele perguntou quem Lhe tocou, não porque não soubesse, mas para um propósito definido, para evidenciar a misericórdia divina diante daquela multidão, para demonstrar o chamado irresistível de Deus a Seus escolhidos.
Os discípulos respondem de forma natural: “Vês que a multidão te aperta e dizes: Quem me tocou?” (Marcos 5:31).
Aquela mulher havia sido curada, tanto Jesus como ela sabiam do fato. Mas Jesus tinha algo mais a fazer por aquela pecadora que veio a Ele. Sua obra não havia se esgotado. A mulher poderia ter se retirado, mas ela ficou ali, porque algo mais lhe atraia, e esse algo era o chamado divino. E mais, aquela mulher era considerada impura, em virtude de sua hemorragia, por isso Jesus também queria resgatá-la da humilhação em que vivia, declarando-a limpa.
Certamente, aquela mulher ficou cheia de temor por saber que estava diante da divindade, e Marcos relata isso.
Marcos 5
33 Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que nela se operara, veio, prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade.
Lucas 8:47, adiciona algo mais:
Vendo a mulher que não podia ocultar-se, aproximou-se trêmula e, prostrando-se diante dele, declarou, à vista de todo o povo, a causa porque lhe havia tocado e como imediatamente fora curada.
Todos ali ouviram sua história. Essa foi uma confissão pública.
Ela declarou publicamente a gloriosa obra de Deus em sua vida.
Jesus a chama de filha.
Marcos 5
34 E Jesus lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.
Jesus dissipa todo o temor que estava no coração daquela mulher. Foi o único registro em que Jesus chama uma mulher de filha. Em Mateus 9:22, Jesus diz: “Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou”. A palavra traduzida como “salvou” é a palavra usada nas Escrituras para salvação. Jesus não estava se referindo apenas à cura da enfermidade, mas à cura da alma, à salvação. E assim, Jesus diz: “Vai em paz”. A paz pertence apenas àqueles que se reconciliaram com Deus.
A vida tinha sido difícil para ela. A palavra traduzida como “aflição” tem o sentido de chicote, flagelo. É a palavra usada para o instrumento pelo qual Jesus foi açoitado. Ela viveu uma vida muito difícil, e agora tudo se fez novo.
Conclusão
Nesses versículos, notemos quanta miséria o pecado tem feito no mundo. Lemos a respeito de uma mulher que estivera sofrendo de uma doença dolorosa por “’doze anos”. Ela “muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar; antes, pelo contrário, indo a pior”. Meios de cura de todos os tipos haviam sido experimentados em vão. A habilidade dos médicos mostrara-se impotente para curá-la. Doze longos e cansativos anos se haviam escoado na batalha contra a enfermidade, e o alívio não lhe parecia mais próximo do que quando começara o tratamento. Diz-nos Provérbios 13.12: “A esperança que se adia faz adoecer o coração”.
Quão admirável é que não odiemos o pecado muito mais! O pecado é a causa de todas as dores e enfermidades neste mundo.
Foi o pecado, nada além do pecado, que trouxe à humanidade todos os males de que a carne é herdeira. É ao pecado que devemos todas as dores excruciantes, todas as enfermidades repugnantes e toda humilhante fraqueza a que nossos pobres corpos estão sujeitos. Nunca nos esqueçamos disso.
Notemos quão diversos são os sentimentos com que as pessoas se aproximam de Cristo. Nesses versículos, lemos que “grande multidão o seguia, comprimindo-o”. No entanto, somente uma pessoa, “vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste”, com fé, e foi curada. Muitos seguiam Jesus por curiosidade, mas dele não tiravam qualquer benefício. Uma pessoa, apenas uma, seguia Cristo com um profundo senso de sua própria necessidade e do poder de nosso Salvador para aliviá-la; e somente ela recebeu uma grande bênção.
Hoje, o mesmo acontece continuamente na Igreja de Cristo. Multidões chegam até os nossos lugares de adoração e ocupam nossos assentos.
Moda, costumes, formalidades, hábito e busca por emoções fortes, ou um ouvido que anda em busca de novidades, esses são os verdadeiros motivos que impulsionam a maioria das pessoas. Há poucos, aqui e ali, que tocam em Cristo, pela fé, e voltam para suas casas “em paz”. Essas talvez pareçam afirmações amargas. Infelizmente, porém, exprimem a mais pura verdade!
Notemos, quão apropriado é para os crentes confessarem, diante dos homens, os benefícios que têm recebido de Cristo. Vemos que àquela mulher não foi permitido voltar para casa sem que primeiro sua cura fosse manifesta. Nosso Senhor indagou quem havia tocado nele e “olhava ao redor para ver aquela que fizera isto”. Não há dúvida de que Jesus conhecia o nome e a história daquela mulher. Não havia qualquer necessidade de que alguém lhe desse informações a respeito dela. Não obstante, Jesus desejava ensinar a ela, bem como àqueles que o rodeavam, que as almas curadas devem reconhecer publicamente as misericórdias recebidas.
Em tudo isso, há uma lição que todos os verdadeiros crentes fariam bem em lembrar. Não podemos nos envergonhar de dar testemunho de Cristo diante dos homens; antes, devemos deixar que tomem conhecimento do que Cristo tem feito em favor de nossas almas. Se encontramos paz por meio de seu sangue e fomos espiritualmente renovados por seu Espírito, não podemos deixar de reconhecer esses fatos, em todas as ocasiões adequadas.
Por último, notemos quão preciosa graça é a fé. Nosso Senhor disse à mulher que acabara de ser curada: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre do teu mal”.
De todas as graças cristãs, nenhuma é tão frequentemente mencionada no Novo Testamento quanto a fé; e nenhuma é tão altamente recomendada.
Pela fé, começamos a carreira cristã. Pela fé, nós a vivemos. Pela, fé permanecemos firmes. Andamos pela fé, e não pela visão. Pela fé, superamos crises. Pela fé, encontramos paz. Pela fé, entramos no descanso do Senhor. Nenhuma outra graça deveria ser tão constantemente sujeita à nossa meditação. Com frequência, deveríamos indagar a nós mesmos: Eu realmente creio? Minha fé é verdadeira, genuína, um autêntico dom de Deus?
Que não descansemos enquanto não pudermos dar respostas satisfatórias a essas perguntas! Cristo não mudou desde o dia em que curou aquela mulher. Ele continua cheio de graça e poderoso para salvar. Só precisamos de uma coisa se quisermos receber a salvação: a mão estendida da fé.
Basta que um ser humano “toque” em Jesus para que seja inteiramente curado.